segunda-feira, 13 de abril de 2009

Femme Fatale

Eu a vi logo quando entrei naquele restaurante. Sabe, a decoração era meio duvidável, me lembrava as boates da Rua Augusta ou coisa parecida, não sei bem te explicar. Só sei que eu a vi ali, sentada, fumando a droga de um cigarro e me olhando com aquela cara de pá furada. Ela era bonita, bonita de verdade mesmo, era só sua expressão naquele momento que estava meio estranha, talvez fosse o tédio que ela estava sentindo ao lado daquele executivo metido a besta. Mas nem dei importância. Reservei minha mesa e fiz o pedido para o garçom. Até onde eu lembro pedi uma dose de Johnnie Walker, e mais alguma coisa que realmente não importa.
Como eu estava dizendo, eu estava sozinho, e da minha mesa não conseguia enxergar onde ela estava. Mas passou apenas cinco minutos e eu a vi, ou melhor, senti um vento na nuca, que me fez deduzir que fosse ela passando por mim para usar o toalete, que ficava próximo à minha mesa. Aliás, eu sabia que o toalete era apenas um pretexto para passar por mim. De qualquer forma, foi em minha perna onde ela deixou cair aquele pequeno papel, com seu nome e telefone escritos em letra de mão. Não houve palavras, nem olhares, nem nada. Só a vi andando para o lado de lá e sumindo por entre as mesas e pilares. Eu continuei ali, segurando aquele papel, sem entender nada.
O nome era, bem, não me lembro qual era o seu nome. Sei que era daqueles bonitos, que faz a gente ficar em dúvida se é o nome real ou se a pessoa inventou para si mesmo. O que eu quero dizer, é o que você já deve estar imaginando: Ela era uma prostituta. Liguei para ela uma semana depois, sem saber de nada, e a convidei pra sair. Só de farra sugeri aquele mesmo restaurante e ela topou.
Parecia outra pessoa. Aquele vestido curtíssimo do primeiro dia se transformou em um vestido de mulher séria, daqueles que chamam a atenção pela beleza, e não pelo fato de deixarem as roupas de baixo quase aparecendo. Passamos a noite inteira juntos, e a levei de volta pra casa depois.
Saímos várias outras vezes, para lugares diversos, e cada dia ela era de um jeito. Um dia se vestia como uma puta, outro como uma mulher casada, outro como uma estudiosa, daquelas que usam casaco de lã e essas drogas todas. O que eu quero dizer é que sua personalidade mudava conforme a roupa que vestia. Havia dias em que ela só falava de política, filosofia e arte. Em outros contava velhas histórias, de quando ela era mais nova e tudo mais. Em outros dias, para variar, só falava de sexo.
Isso se repetiu por todo o tempo. Tive que me acostumar com suas infinitas personalidades, e aos poucos fui aprendendo como ela funcionava. Até na cama isso mudava. No começo achei que ela tivesse alguma obsessão por roupas, e pensei que, se eu as tirasse, ela seria a pessoa que realmente é. Mas não, era coisa de dia. Com roupa ou sem roupa, ela não mudava. Cada dia ela era diferente, e é aí onde eu quero chegar.
Foi numa sexta de noite, estava chovendo e eu combinei de pegá-la em sua casa, coisa que eu nunca havia feito antes. Foi um choque, de verdade. Quis me morder, chorar, me matar, gritar, juro que eu mesmo não sabia o que eu queria naquela hora. Só sei que elas saíram pela porta da frente. Sim, ELAS, pois eram três. Três mulheres exatamente iguais, a não ser pelas roupas. Uma era prostituta, outra trabalhava em uma empresa grande no centro da cidade, e outra era dona de casa, porém era muito bem informada e lia muito. Falaram finalmente que eram trigêmeas, e que fizeram isso pois queriam passar por uma nova experiência. Eu fui o cobaia nessa droga toda. Entrei de volta no carro, e fui embora sem dizer uma só palavra. Nunca mais as vi. Só para completar, aquele executivo metido a besta no primeiro dia no restaurante era, de fato, o pai delas.

11 comentários:

  1. Meu Deus ! Você tem o estilo da Agatha Christie.Já leu?Só revela as coisas no "final do final".risos Abração !

    ResponderExcluir
  2. Legal o conto! Me prendeu a leitura, muito interessante! Você devia ler algo do Julio Cortazar, ou do Horacio Quiroga. Se você quiser tenho um texto teórico chamado "o manual do perfeito contista" em que se discorre sobre alguns aspectos do conto, é bem interessante, só que está em espanhol. Enfim, muito bom o conto! parabéns! Ah, e seu link já está no meu blog!

    O maluco sadio
    www.omalucosadio.blogspot.com

    ResponderExcluir
  3. Eaeh!
    Rapaz que estilo é esse de escrever! Muito bom, ta de parabens pelos ótimos contos e pela criatividade que esbanja aqui!
    AbraçO

    ResponderExcluir
  4. um enredamento entre desejo e imaginário tecida de forma fluida e permeada de mistério. fui fisgada por essa trama e fiquei tomada de vontade de viver "etonograficamente" uma experiëncia marcada por tal polifonia do feminino. vocë atiça fantasias. bjs

    ResponderExcluir
  5. Boa Tarde Meu caro!!! Passei por aqui... Gostei do que vi sim! Como não deixar um comentário? Impossivel! Voltarei!!!

    Abração irmão!

    ResponderExcluir
  6. Sem estamos preparado vem a surpresa que nos conquista com um olhar
    E feliz vem a surpresa daquilo que por um minuto estava nos fazendo feliz.
    Belíssimo o seu conto!! E olha já add!!!

    ResponderExcluir
  7. Adorei esse blog, demais demais! Sim, veja, meu msn está com problemas e não estou conseguindo entrar. Seria possível conversarmos por emails?

    ResponderExcluir
  8. então Lucas, como se achar sem ao menos se perder! Parece ilógico não é? Deixo outra frase em resposta: "Penso, logo não existo". Já é o bastante para estar perdido...

    Boa Semana!

    ResponderExcluir
  9. agora sim lhe add, desculpa ae!! e valeu pelo comentario meu querido!! e quem faz o meu comentários ser tão poéticos e bonitos, são seus contos, pensamentos e poemas!!!

    ResponderExcluir
  10. Agatha Christie na veia.
    sério, meu.
    haha
    está me fazendo perder as palavras, *-*

    ResponderExcluir