segunda-feira, 23 de março de 2009

O Branco

Tudo aconteceu em um lapso de tempo. Lembro de um carro vindo em minha direção, depois veio o branco, e só. Acordei ali, não consigo entender. Me lembrava bem daquela rua, foi onde tudo aconteceu - O carro, o vento, o sangue, o branco, tudo.
Analisei brevemente o chão em busca de rastros, sangue, ou o que quer que seja, e parti sem sucesso. Depois de 30 minutos de caminhada, finalmente cheguei. Parecia a mesma casa de sempre. Mesma pintura, mesma porta, exceto por um detalhe: A sensação de que eu nunca existi.
Vi minha mãe em sua cadeira, daquelas que balançam, costurando suas coisas. Meu pai sentado na poltrona com o jornal na mão e o cigarro na boca. Nenhum sinal de minha ausência. Nada.
Bati na porta três vezes, dei de cara com meu pai, e uma frase, frase aquela que me partiu o coração. Se tivesse vindo de outro, não me importaria não, viu? Mas um pai virar pra você e falar com a maior frieza: "Quem é você rapaz? O que procura aqui uma hora dessas?". É de chorar. Simplesmente me virei e parti. Eles não me conheciam.
Percebi que estava num mundo estranho - é claro que era o mesmo lugar de antes, mas as pessoas eram outras, sabe? Meu pai não era meu pai, era um homem no corpo de meu pai. Com minha mãe aconteceu a mesma coisa, e com todas as pessoas que eu conhecia também. Eles viviam a vida normal, como se eu nunca tivesse mesmo existido.
Com o tempo fui percebendo que meus velhos amigos tinham outra pessoa no lugar que seria eu. Eu não era um fantasma, nem nada do tipo. As pessoas podiam me ver, podiam me sentir, mas se recusavam a fazer ambas as coisas, por algum motivo que eu não sei.
Olhei pro lado, pro outro, e percebi que iria passar o resto de minha vida assim, no branco, tentando achar a mim mesmo. Caminhando isolado, com saudade, no escuro, exatamente como todos as outras pessoas do mundo - Completamente perdido.