segunda-feira, 20 de abril de 2009

A Casa de Cartas

A casa era de cartas, media em torno de um metro e ficava bem no meio do quarto de Ana. Era separada por andares. O primeiro andar era composto pelos Ás, o segundo era composto pelos Dois, o terceiro pelos Três e assim sucessivamente. Os Valetes compunham o penúltimo andar, e os Reis compunham o topo da casa, o último andar. Era ali, naquela pequena casa de cartas, onde Ana achou um refúgio da dolorosa realidade.
Ela passava horas e horas conversando com cada morador daquela pequena casa. Perguntava aos Valetes se eles não se entristeciam por saberem que nunca seriam Reis, já que os Reis atuais nunca morriam. Pois bem, eles explicavam que essa coisa toda de poder e status é coisa do nosso mundo, e que na casa de cartas não havia vantagem em ser Rei, nem em ser Valete, não havia diferença alguma entre ninguém. A única diferença é que os Reis eram os únicos que poderiam ser removidos da casa, simplesmente por serem do topo. Todos os outros, se fossem removidos, desmoronariam a casa inteira.
Conforme o tempo foi passando, ela se envolveu com cada morador quase absolutamente, e aprendeu a gostar de cada um deles pela simplicidade e pelo exemplo de vida harmoniosa que eles levavam. Mas acontece que, por ironia do destino, ela se apaixonou pelo Valete de Espadas. Claro que foi um amor inventado, assim como todos os outros amores de todas as outras pessoas do mundo, porém havia uma diferença, este era impossível. Não tinha como tirar o Valete dali, pois se fizesse, a casa inteira desmoronaria. Sendo assim, ela entristeceu. Não sabia se valia realmente a pena sacrificar seu velho refúgio assim, e simplesmente ignorar os outros cinqüenta e um moradores em troca de um amor que só ela entendia. Ana tinha apenas onze anos, e é bem difícil ter certeza de qualquer coisa nessa idade, e em qualquer outra idade, aliás.
Pois bem, depois de muito pensar, resolveu que tiraria sim o Valete de Espadas, e assim o fez. A casa foi desmoronando, carta por carta, alma por alma, lentamente. Ela enxergou todas as pessoas que ela tanto amava caindo, e não fez absolutamente nada. Seu amor era muito mais forte.
Depois de alguns segundos, olhou para todas aquelas cartas espalhadas no chão de seu quarto, e em suas mãos estava apenas o Valete, que com a morte de todos, se transformou em um Rei. Todas as paredes de seu quarto começaram a se transformar em cartas gigantes, cada uma de um jeito. Começaram também a se organizarem por andares. Ana era do antepenúltimo, junto com mais três Damas. Viu-se, sem querer, dentro de uma casa de cartas, que a qualquer momento desmoronaria. Trocou toda a segurança e o conforto do seu mundo, simplesmente por amor.

25 comentários:

  1. Oh, Gigante e Admirável Amigo:
    Um texto soberbo de encantar.
    Tem génio. Tem talento. Tem o dom na escrita de maravilhar e deslumbrar quem aqui passa.
    As suas palavras são ricas, intensas, profundas e originais de um fabuloso sentir.
    EXcelente!

    Abraço de grandioso respeito, estima e consideração.
    OBRIGADO pela simpatia no meu blog.
    Bem-Haja, fabuloso amigo!

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  2. Bom Lugas, tentar resumir em poucas palavras não será fácil, e nem sei bem se é isso que quero fazer perante esta inacreditavél maravilha da literatura, é a leveza do ser perante a ilusão consciente, é autêntica a elegância das palavras, encostadas uma a uma transformando sim a realidade de quem lê...
    Adorei
    Obrigada
    beijinhos
    Liliana

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  3. P.S. Lamenávél falha, erro de quem acabou de acordar de mais uma de tantas noites em branco, queria escrever Lucas e escrevi Lugas, peço desculpa.
    Beijinhos
    Liliana

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  4. Oi Lucas!
    Obrigada pela simpática visita.
    Concordo com você quando diz que a leitura é um refúgio da realidade. Às vezes, a vida se transforma num castelo de cartas frágil que pode desmoronar a qualquer segundo.
    No momento, a leitura tem sido minha proteção. Ler coisas tão bonitas como as que você escreve me trazem uma paz muito grande.
    Lucas, um abraço carinhoso!

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  5. Oieee tudo?
    Olha Lucasjá te disse varias vezes que tu escreve MUITO bem, que tem talento, que é muito bom, e esse texto prova mais uma vez isso!
    Nunca fui uma ana, sempre preferi me sacrificar ao inves dos outros!
    cada um com sua escolha!
    Mais uma vez PARABÉNS!
    e até depois ;]
    beijosss

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  6. Nossa! Depois de ela ter conhecido toda a população, vamos dizer começou a ter uma intimidade “amigo” com algumas cartas! Ela se apaixona por um! Mais tem um problema se eu tirar o meu amor dali toda a casa irá cair. E agora? Uma escolha a fazer... Quantas vezes somos colocados em situações assim? E não sabemos o que fazer, ou às vezes sem pensar tomamos a escolha errada, ferimos um coração (s). Fiquei pensando eu se eu fosse essa menina de onze anos que escolha eu faria! E até agora não sei... Belíssimo o seu post.

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  7. Não há como entender as nossas constantes trocas de segurança por amor inseguro. Ou por amor seguro - que maravilha! Mas aí a casa já não seria feita de cartas - não teria risco de desabar.

    Não sei que escolha eu faria, mas sinceramente... Sou passional!

    Um beijo
    www.lizziepohlmann.com

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  8. Lucas

    Em primeiro agradeço sua visita ao meu luar,e quero te dizer que fiquei encantada co a estória que acbei de ler.Tens o dom de maravilhar com tua escrita.
    Parabens,vou querer voltar

    Um bj acompanhado de um luar

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  9. *com
    *acabei
    Desculpa,ás vezes como letras!

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  10. Muito bom de se lêr!
    Obrigado pela visita, volta sempre que quiseres =)

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  11. Um dos seus melhores textos com certeza !
    Parabéns Lucas !

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  12. óó, eita, ta melhor q meu livro d causos :), da hora, vc tem o dom pra isso msm, e nao é só mais um apragmatizado pelos "valores" da sociedade hj em dia... curti ^^, e o cd?? sai ou nao sai? ^^ rrs,
    flw

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  13. Bem tento ter sempre a esperança de algo melhor...
    Obg pela visita. Bjo

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  14. Encantor este seu texto!
    Amei, sua escrita, simples mas muito linda, muitos parabéns!
    Como se percebe tudo o que seu texto queria demonstrar, que por vezes o amor é tanto que nos tornas-mos egocêntricos!


    Desculpe a invasão! Beijo_O

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  15. Mais uma vez um ótimo post! Parabéns!
    Tbm coloquei seu link!
    AbraçO

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  16. Obrigado!
    Mas se pensarmos um pouquinho chegamos a conclusão que por vezes quando temos amigos mal, senão os conseguimos por bem, ficamos no nosso canto a espera que tudo volte ao normal, mas isso pelo meu ver não está correcto pois, somos maigos e num momento de tristeza nós também devemos estar presentes.
    Beijo:[]
    E volta sempre que quiseres!

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  17. vc é um filho da puta de um ótimo escritor! te odeio por ter tantas inspirações... vc faz as minhas boas idéias parecerem infantis!

    péssima companhia para a minha auto-estima! --'

    beijoo

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  18. "Trocou toda a segurança e o conforto do seu mundo, simplesmente por amor". Coragem? Ingenuidade?... Sei lá... Só sei que seu texto é dotado de uma rara sensibilidade. Muito Bom!
    Quando quiser voltar ao "Escrevedora" será sempre bem-vindo!

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  19. Já está adicionado!...Pode ter certeza que estarei sempre por aqui...

    Um abraço!

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  20. Rapaz, parabéns pelos contos. Um mais bacana do que o outro. A narrativa é envolvente e difícil é cansar os olhos. Muito legal o seu blog.
    Parabéns.

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  21. é mais comum do que tudo, a casa simplesmente cai.

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  22. Quando acho que não vais mais me surpreender me deparo com uma escrita dessas! sério, estou muito ansiosa pelo texto de amanhã.

    Grande Beijo:*

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