- Aí, vadia, quanto que é?
- Hey garoto, que é isso? Quem você pensa que é, pra vir assim, sem mais nem menos, e falar comigo desse jeito?
- Calma, só perguntei. Quanto que é, em?
- Não me olhe com essa cara. Não é minha culpa que você cismou com minha bunda e quer colocar suas coisas nela. Eu vou te dar depois, mas por enquanto não, to afim é de zombar da tua cara, agora.
- Zombar da minha cara? E por que você faria isso?
- Quem são aqueles ali, alegres feito uns idiotas?
- Meus amigos...
- Ah, amigos... Sabe o que eles vão fazer com você? Quando você encher essa tua cara fofinha de vodka e tequila, vão te deixar no chão, babando e tremendo, e vão cada um pra suas casas, como se nada tivesse acontecido.
- Eles são meus amigos de verdade, não são desse tipo...
- Claro, você paga tudo pra eles. Quem não é teu amigo, playboy, me diz?
- Deixa pra lá... Tem um cigarro?
- O quê? Você fuma?
- De vez em quando.
- Tá bem, toma a porcaria do cigarro.
- (tosse)
- Tossindo? Há-há, tossindo!? Não precisa mostrar bonito pra mim se você nunca fumou antes. Eu vou dar pra você de qualquer jeito, garoto, mas espera, não agora. Por falar nisso, são noventa e seis reais.
- Noventa e seis reais!?
- Você acha caro? Acha que eu sou puta de rua, daquelas neguinhas que chupam pau de caminhoneiro? Há, boy, nada nunca foi caro pra você, esqueceu? De puta de rua não tenho nada.
- Eu só estav..
- E pra que você veio pra cá, afinal, em?
- É que eu nunc...
- É virgem, ah, sim, imaginei... E o que quer que eu faça por você?
- Agora?
- Não, não agora, playboy. Estou falando mais tarde, o que você quer que eu faça?
- Seria bom co...
- Tá bom, faço com a boca sim, mas só pra você, em garoto? Não vai sair por aí espalhando pra meio mundo que a “coroa vadia” pagou umazinha pra você, em?
- Eu não ia falar isso. Você é que não me deixa terminar de falar...
- Você é bonitinho, e além do mais é tão estúpido, tão criancinha, sabia?
- Você vai ficar aí falando, ou o quê?
- Tá, tá, vamos logo com isso. Agora para de falar, e me deixa entrar na porcaria do carro.
- Mas e os...
- Manda teus amiguinhos irem embora, não quero olhar pra cara deles.
- Mas...
- Espera até a gente chegar lá, aí você fala o que quiser, entendeu, boy? Agora, só dirige.
- Tá bem... Mas lá, onde?
- No motel. Você vai pagar motel pra gente.
- Vou?
- Vai.
- É porque eu reclamei do preço, que você tá assim, nervosa?
- Não estou nervosa. Já estou te dando um desconto, boy. Você quer me comer de graça, é?
- Eu n...
- Há, sim, todo mundo quer. Agora fecha essa boca.
(Já no motel)
- Ok, pode falar agora, playboy, e enquanto fala, já vai tirando essa roupinha de bicha que eu não tenho muito tempo.
- Mas calma, não é ass...
- Tá com vergonha, é? Eu tenho cara de quem tem o dia inteiro pra ficar aqui com você? Vai logo com essa roupa, garoto.
- Tá bom, tá bom... calma...
- Bonito aqui, esse lugar. Você é o primeiro que me traz aqui, sabia, boy?
- Mas eu não trouxe... foi voc...
- Você que vai pagar, então é você quem trouxe.
- Pode ser, então.
- Que é isso? Tá esperando o quê? Você acha que essa coisinha mole vai entrar em algum lugar?
- É que...
- Tá, já sei...Talvez se eu fizer isso melhore... está melhorando?
- S-si-sim...
- E isso?
- Melhor ainda...
(instantes depois)
- Curtiu, playboy?
- Sim, muito, mas agora tenho que ir embora... tá ficando tarde.
- Ir embora? Não, não, por favor, boy! Fica!
- Quê?
- Eu não cobro nada, mas fica, fica aqui comigo!
- Como assim, ficar aqui com você? Você tava toda mal-humorada, dizendo que tava sem tempo...
- Eu menti. Não aguento mais isso, boy... Estou cansada!
- Não aguenta mais o quê?
- Chega sempre algum cretino, come a minha bunda no fim do dia e vai embora como se nada tivesse acontecido... estou cansada disso.
- Mas você é uma puta, e as putas fazem isso, não fazem?
- Fazem, mas olha pra mim, playboy. Já estou nessa vida há muito tempo... longe de casa, sem amor, sem nada...
- Imagino...
- Fica aqui... a gente abre um vinho, acende essa porcaria de lareira, já que tá esse friozinho...
- Mas e amanhã?
- Amanhã você pode ir embora, se quiser... Mas agora passa a noite aqui comigo, a gente finge que se ama, e eu pago você amanhã, noventa e seis reais.
- Mas é eu que tenho que pagar, não é?
- Vem aqui, finge que me ama, que eu sou teu amor... Fala coisas bonitas pra mim, igual naqueles filmes idiotas... e eu pago pelo serviço.
- Serviço?
- As pessoas compram meu corpo, e hoje eu quero carinho, quero me sentir mulher, honrada... então eu o compro. Você faria isso por mim?
- Mas...
- Vem aqui, playboy. Entra aqui, debaixo dessa coberta comigo... a gente dorme abraçadinho, talvez eu te conte algumas histórias...
- Está bem...
- Isso! Assim, boy. Continua deitado, aqui, do meu lado... Te amo tanto, garoto.
- Te amo... é assim que você quer?
- Isso, agora pega na minha mão, faz carinho...
- Assim?
- Isso, playboy... Agora nos meus cabelos... Isso...
Fade Out
.
.
É, dura realidade!
ResponderExcluirNão se precisa olhar muito ao longe pra se deparar com isso.
Digo da "vulgarização" do amor, da carência humana.
Da depreciação do sexo.
Infelizmente sim, há pesoas que fazem desse um meio de, eu não diria nem viver, mas SOBREVIVER.
Que se deparam todos os dias, todas as noites com as mesmas cenas, de se sujeitarem aos maus tratos, muito mais que os físicos, mas os morais. Os emocionais.
De terem, pelas circunstâncias em que se encontram se limitar aos olhos do outro como um "objeto na prateleira".
Mas agora, não soemnte limitando às "prostitutas", nem aos Boys, digo no geral...
Das pessoas se preocuparem tanto e cada vez mais com tanto amterialismo, com tanta ganência e deixam de lado ou muito mais que lá pra trás, aqueles veraddeiros sentidos e tão simples prazeres da vida.
Do se dizer que gosta de alguém,
Do ter e dar amor.
A carência humana é algo que cresce absurdamente.
E aquilo que mais move um ser humano é infelizmente, ainda, nos dias de hoje, visto como inútil e inviabilizado.
Não sabem que a riqueza vem daí. Do que não se enxerga, nem está na conta bancária, nem faz sucessos nas páginas de revistas, de estática.
Vem de dentro. Se sente por dentro.
Gostei muito
Reflexivo demais.
Carinho sempre,
Sam
É triste perceber que hoje em dia, pessoas se contentam com amores/coisas "de mentira". Com toda essa modernidade, não se sente mais. Compra-se!
ResponderExcluirIlusão.
sobre o teu comentario..
ResponderExcluirbom, não sei vc, mas a maioria dos meus sonhos sao em cinema mudo. =D
sobre o conto de hj..
bem interessante, não esperava a reviravolta da puta, ela parecia q ia ferrar o garoto... foi inesperado e diferente. Muito bom.
www.thiagogaru.blogspot.com
kkk, carência afetiva é soda.
ResponderExcluirUma hora todos nós precisamos de carinho e atenção, nao faz diferença do que fazemos ou o que somos, todos são iguais por dentro!
ResponderExcluirbeijosssss
Ah,que amor inventado mais lindo!
ResponderExcluirE olha...eu sei que esse é um quadro atual sabe...
Duvido que isso, assim, exatamente como vc descreveu não aconteça realmente!
Bjos, lindo texto!
POr vezes passamos, por pessoas nas ruas e o que vemos afinal, é a cara! não é verdade?
ResponderExcluirCriticamos, deitamos abaixando, e reparando o que está vestindo, mas como será que está essa pessoa por dentro?
E pode até mesmo estar a sorrir, mas por dentro nós não sabemos, até pode ter problemas de dinheiro, problemas familiares, e fingir que tudo está bem.
Essa garota do teu texto, à primeira vista ser uma dorona, mandona, mas também se via que estava um bocado triste, talvez pelo facto de estar farta dessa vida de "puta". Mas a sua máscara caiu, e descobrir, que amar e ser amada também faz parte da vida, e é muito bom.
Amei seu texto, escreves de uma forma tão linda!
Beijo
Já imaginei os diálogos sendo filmados pelo Wes Arderson. Como sempre, muito bom. Idiossincrasia pura!
ResponderExcluirAh, valeu pela crítica do último post. Acabei deixando uma resposta para você lá no blog mesmo. Gostei dos seus apontamentos. Tenho que concordar contigo.
Abraço.
Oi Lucas!
ResponderExcluirObrigada pela visita e comentário....
Sabe penso realmente assim...sou mais machista que muitos homens...kkk
Vou te adicionar lá no blog...bj e bom find!
Babi
Adorei!
ResponderExcluirSua simplicidade encanta.
Obs: estou baixando a musica.
:)
Acontece... triste.
ResponderExcluirInteressante abordagem ! Gostei ... Beijos carentes !! rs
ResponderExcluirHelô
O mundo está carente disso hoje em dia. Pelo menos o povo enxerga que é isso que vale.
ResponderExcluirCarinho é bom, mas amor é amor. E amor a gente não inventa.
ResponderExcluirBom texto! (:
claro que deve tomar como elogio. você escreve de um jeito que eu me imagino como personagem, e isso me fascina. também vou te adicionar na minha lista :D
ResponderExcluirOi Lucas! Mais um excelente texto!
ResponderExcluirOlha, tens um selo pra ti no meu blogue!
Beijinhos
Oi Lucas!
ResponderExcluirNossa, cheguei no teu blog por um "acaso" e dou de cara com esse texto... ótimo!
Tu mostrou a realidade falando da prostituta com o "boy" e eu fui além... hoje em dia os sentimentos estão tão efêmeros. A sociedade do ter está além do que os sentimentos precisam e isso faz com que as pessoas queiram o rápido ao invés do duradouro... onde fica o carinho e o amor?
Inúmeras discussões podem susgir do teu texto!
Gostei muito!
Beijo pra tu!
É tudo tão superficial.. Mas um dia isso ainda há de mudar...
ResponderExcluirAmém!
Isso so prova que somos todos iguais no q se refere a sentimentos. Isso que vale, isso q importa.
ResponderExcluirBjos meu lindo1
Atualmente com esse mundo banalizado, dizendo eu te amo no primeiro dia que se conhece, desconhecimento do que eé verdadeiramente amar, que eé mais complicado do que imaginamos encontrar um casal que se ame de verdade e possuam uma vontade de viverem atéé velhinhos juntos, nao pela quantidade de anos juntos, um record, mas a compreensao, respeito que envolve!
ResponderExcluirUm tipo excêntrico de prostituta..Haha.. Mas gostei do conto, e da música também.
ResponderExcluir"All we need is love";
beijos, e um café expresso.
Olá!
ResponderExcluirPassando só para agradecer tuas palavras lá na Caixa e dizer que também te adicionei na minha lista. Voltarei sempre. ^^
Beijo e até mais! =]
'Como sempre, ótimo conto!
ResponderExcluirMas é verdade, ultimamente o mundo anda carente de afeto, de "palavras bonitas", de amor.. em sua maioria, as pessoas só pensam em sexo, nada a mais.
Beeeijos. ;*
Imaginação nunca tem limites =)
ResponderExcluirPassa no meu cantinho tem lá um selinho! =)
A dura realidade dum amor inventade e, como sempre, o teu grande talento a ser demonstrado.
ResponderExcluirLucas... Fico sempre pasma com a sua capacidade de criar esse tipo de texto.. E sempre com vontade de ler mais e mais!
ResponderExcluirSuper parabéns!
Massa. lembra muito A DAMA DA NOITE de Caio Fernando abreu. vc conhece? Abraço.
ResponderExcluir